Durante três anos, as peças integraram a exposição "Auguste Rodin: Homem e Gênio", em Salvador (BA)
Flávio Costa e Frederic Jean
Impasses burocráticos entre a Secretaria de Cultura da Bahia (Secult-BA) e a Receita Federal atrasaram em duas semanas o retorno para França de 62 obras do escultor Auguste Rodin (1840-1917), avaliadas em R$ 10 milhões. Durante três anos, as peças integraram a exposição "Auguste Rodin: Homem e Gênio", no museu Palacete das Artes (ex-Rodin Bahia), em Salvador. Elas foram cedidas em regime de comodato pelo museu Rodin de Paris. O governo baiano investiu R$ 1,5 milhão na mostra gratuita, encerrada no final de outubro, e visitada por 500 mil pessoas, metade do público previsto.
A pendência aconteceu logo após as declarações polêmicas do diretor do Palacete das Artes, Murilo Ribeiro, ao jornal A TARDE, sobre o fim da exposição e da parceria com o museu francês. "Ninguém vem à Bahia para ver Rodin. Quem vem para a Bahia quer ver a cultura da Bahia. A exposição teve sua importância e aproximou o público da escultura, mas esta é uma linguagem artística que demanda mais apuro", afirmou.
As esculturas deveriam sair do país em 19 de novembro: as peças maiores embarcariam em um avião cargueiro do Aeroporto de Viracopos, em Campinas; e as menores em um avião comercial a partir do terminal de Guarulhos. Elas foram embaladas em Salvador e transportadas em um caminhão para a capital paulista, sob a guarda da transportada Millenium. Dois curadores do museu parisiense viajaram para acompanhar o retorno e avaliar o estado das obras - a conclusão foi de que elas estavam em perfeito estado -, mas voltaram de mãos vazias. A Receita não autorizou a saída do Brasil, por falta de documentação necessária.
O impasse sobre os documentos só foi resolvido na última sexta-feira 30. O episódio irritou a equipe francesa do Museu Rodin Paris, que criticou a "desorganização brasileira", segundo apurou ISTOÉ com pessoas envolvidas no imbróglio. Por telefone, a curadora-chefe do Museu Rodin de Paris, Aline Magnein, classificou o episódio como "lamentável", mas evitou fazer qualquer crítica pública. "Estamos resolvendo a situação com o pessoal do Brasil", resumiu Aline. Apenas às 23h segunda-feira 3, as obras menores embarcaram de Guarulhos para a capital francesa; as maiores só irão na quinta-feira 6, segundo apurou ISTOÉ. "Nós trabalhamos com 20 anos com este tipo de exposição e estes pequenos problemas são normais", minimizou o representante da Millenium, Andrews Silva.
Por contrato, as esculturas foram cedidas pelo período de três anos, a partir de abril de 2009, mas só chegaram na capital baiana em outubro daquele ano.Em abril de 2012, a Secult-BA protocolou na Receita Federal em Salvador um pedido de prorrogação da permanência das obras até o final de outubro, com anuência dos franceses. Esta solicitação não foi julgada pela unidade baiana do órgão federal, segundo afirmou a assessora de relações internacionais da Secult-BA, Monique Badaró. Mas os fiscais da unidade paulista exigiram exatamente o documento no momento do embarque nos terminais aeroviários e foi este entrave burocrático que fez com que as esculturas ficassem em um depósito da transportadora por duas semanas. Pela legislação aduana no caso de um pedido como este "não ser deferido ou indeferido", a aprovação seria automática, mas não foi o que ocorreu. "É claro que eles (os franceses) ficaram chateados porque eles estavam com outros planos. Isso atrapalhou um pouco o cronograma deles. A gente jamais imaginou ou previu que haveria este problema junto a Receita", afirmou Monique. A assessoria da Receita Federal, em Salvador, não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem.
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