Ex-diretor da estatal Dersa negou que conhecia o esquema de Carlinhos Cachoeira e também vários membros da Construtora Delta
Do Portal Terra
O ex-diretor da Dersa, estatal responsável pelas rodovias em São Paulo, Paulo Viera de Souza, conhecido como Paulo Preto, explicou nesta quarta-feira (29), em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira, a sua exoneração do cargo, em 2010, após um e-mail enviado pelo então governador Alberto Goldman ao ex-secretário de Transportes Mauro Arce criticando a sua gestão. Afirmou que foi chamado de Super-Homem, mas que pelo volume de obras que fez poderia ser chamado de Batman.
O relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG), apontou que no e-mail Souza é descrito como incontrolável. "O doutor Goldman mandou esse e-mail, que é verdadeiro, e disse que eu sou vaidoso, ele está correto. Sou arrogante, falo o que penso, e está correto. Disse que eu sou o Super-Homem e daí ele errou, eu sou um ironman (Preto é praticante do triatlo). Disse que o governo me tratava como Super-Homem, mas ele também errou. Mas o governo na minha gestão com 13 bilhões de obras eu não era o Robin, poderia ser o Batman".
Souza negou que conhecia o esquema de Carlinhos Cachoeira e também vários membros da Construtora Delta, com exceção do ex-presidente da empreiteira Fernando Cavendish. "Encontrei o Fernando Cavendish por duas vezes, uma na assinatura do contrato do Rodoanel e outra na reunião que ele garantiu cumprir o prazo estabelecido", afirmou.
O ex-diretor detalhou como foram feitos os contratos da nova Marginal Tietê e também do Rodoanel, duas obras realizadas na sua gestão. Ele negou que a Delta tenha sido beneficiada e apontou que a construtora perdeu a maioria das licitações da Dersa. "Na minha gestão, gerenciei 11,5 bilhões em obras. A Delta participou de todas as licitações e perdeu todas pelo preço. O valores recebidos pela Delta chegaram a apenas 1,9% dos valores licitados", explicou.
Souza esclareceu também a necessidade de um aditivo de R$ 264 milhões nas obras do Rodoanel pelo uso de novas tecnologias para terminar o empreendimento no tempo limite do contrato. Apontou que a operação foi liberada pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas. Ressaltou que o ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, Luiz Antônio Pagot, não teve autorização da Advocacia Geral da União para assinar o Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que liberava o governo de São Paulo a aditar a obra. "Não é que ele não quis, ele não tinha autorização", destacou.
Segundo reportagem publicada em ISTOÉ em outubro de 2010, uma parte desse aditivo teria sido desviada para campanhas políticas do PSDB em 2010 – de José Serra à Presidência da República e de Geraldo Alckmin ao governo de São Paulo.
Carlinhos Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.
Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.
Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.
Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.
Leia A visão da época: http://carvalhoaldo.blogspot.com.br/
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