PSDB enterra debate entre pré-candidatos 

Falta de disposição de Serra fez ideia minguar. Favorito, ele recebe lideranças em seu escritório nos últimos dias de campanha. Às vésperas do embate, Aníbal provoca: “Vou ganhar. E Serra sabe disso”

Carolina Freitas

Montagem dos pré-candidatos do PSDB a prefeitura de São Paulo, José Anibal, José Serra e Ricardo Trípoli (Alexandre Moreira/Brazil Photo Press e Rodrigo Capote/Folhapress)

O PSDB desistiu de promover um debate final entre os três pré-candidatos do partido à prefeitura de São Paulo. A decisão foi confirmada ao site de VEJA pelo presidente municipal da legenda, Júlio Semeghini. "Tudo o que fizemos nesse processo teve a concordância de todos os pré-candidatos. Neste caso, não houve consenso", explicou.  "Serra queria tempo para se apresentar aos militantes do partido com agendas para apresentar aos militantes do partido com agendas próprias."

Após a entrada tardia de José Serra nas prévias, a realização de dois debates em março era ponto de honra para José Aníbal e Ricardo Trípoli. Para que Serra entrasse, Bruno Covas e Andrea Matarazzo retiraram seus nomes e passaram a apoiar o ex-governador. Antes da reviravolta, os quatro pré-candidatos tinham participado de quatro debates, um em cada região da cidade. O mecanismo tinha como objetivo expor as ideias deles aos militantes, que escolherão o candidato a prefeito por votação direta neste domingo.

 

No dia seguinte à entrada de Serra na disputa, Aníbal e Trípoli divulgaram uma carta conjunta enviada a Semeghini, solicitando a organização dos debates. Aníbal e Trípoli tiveram de aceitar ainda o adiamento das prévias de 4 para 25 de março, decidido em uma votação apertada da executiva municipal. 

 

Serra nunca escondeu sua antipatia pela ideia dos debates. E deixou essa opinião clara à direção do PSDB. Sem consenso entre os pré-candidatos, Júlio Semeghini pouco pode fazer para promover os encontros. "Achei legítimo o pedido de Aníbal e Trípoli. Mas também respeito a opinião de Serra", disse o presidente municipal da legenda.

 

Trípoli e Aníbal, antes tão aguerridos, esmoreceram diante da negativa de Serra. "Não é que abri mão, mas o partido entendeu que não seria necessário. É uma pena”, disse Trípoli ao site de VEJA. “Não persisti. Fiquei mais focado na campanha porque, com a entrada de Serra, mudou o patamar da disputa.”

 

Já Aníbal, em vez de brigar pela organização do debate, usou a situação contra Serra. "Quando todos perceberam que ele não queria os debates, isso deixou de ter relevância. Insistir para que?”, afirmou Aníbal. “É mais um sinal de que ele não tem apreço pela militância do PSDB." 

 

Serra, por sua vez, não se esforçou em esclarecer seu ponto de vista: "Nunca ouvi disso", afirmou ao ser questionado sobre por que não fora realizado nenhum encontro entre pré-candidatos. "Exceto em pergunta da imprensa, nunca ouvi falar."

 

Estratégia - Disputar as prévias do PSDB é uma questão de honra para José Serra. Além de satisfazer a militância, a participação dele no processo tem como objetivo fustigar José Aníbal. Hoje secretário de Energia do governo Geraldo Alckmin, Aníbal tem sido, eleição após eleição, uma pedra no sapato de Serra. É ele quem instiga e comanda um ruidoso grupo anti-Serra dentro do PSDB.

 

Por isso, o ex-governador adotou uma estratégia de precisão cirúrgica. Munido de uma lista de presidentes de diretórios zonais e secretários do partido, fechou-se em seu escritório desde quinta-feira e lá pretende ficar até sábado. Ele está telefonando e enviando e-mail para as lideranças explicando os motivos pelos quais quer ser prefeito e pedindo o voto deles nas prévias de domingo. Figuras com mais influência sobre os filiados serão recebidos nesta sexta-feira no escritório de Serra, na Zona Oeste de São Paulo.

 

Enquanto isso, José Aníbal armou-se para cooptar os aliados de Trípoli. Na terça-feira à noite, reuniu seus homens de confiança e disse: "Não vamos ganhar, mas não vamos perder feio." Assim, ficou combinada uma estratégia para abordar as lideranças simpáticas a Trípoli e tentar convencê-las a mudar o voto. Oficialmente, Aníbal é só confiança: "Eu vou ganhar a eleição [as prévias]. E ele [Serra] sabe disso." Uma das primeiras providências do pré-candidato, se eleito, será rever a aliança do PSDB com o PSD, costurada por Serra. "Acho a gestão Gilberto Kassab ruim. A aliança com ele não nos acrescenta nada." 

 

Ao longo da semana, por telefone e pela internet correram boatos de que Trípoli tinha desistido de disputar as prévias. Tantos que o pré-candidato teve de gravar e divulgar um vídeo para desmentir a informação. Mostra do poder do fogo amigo.