Se você ouve por aí que alguém resolveu ir até a divisa do Canadá com os Estados Unidos para correr 434km e, durante metade do percurso, isso será feito sem apoio de ninguém, é provável que você determine: “Esse cara é maluco!”. O “cara” é Márcio Villar. Falta um dia para ele tentar bater um recorde. Márcio já dobrou duas ultramaratonas, correndo os 434km na Brazil 135 e na Bad Water, e agora quer concluir seu feito na Arrowhead. Continua achando que ele é maluco? Pois, para Márcio, ele é apenas um apaixonado por corrida.
- Eu corro brincando e incentivando todo mundo. Eu estou feliz ali. É o que eu amo fazer. Acho que o meu diferencial para os outros atletas é fazer isso por amor e não para provar nada pra ninguém, esse lance de ter que ganhar de alguém. Quando eu estou ali, sou a pessoa mais feliz do mundo. É a coisa que mais gosto de fazer na minha vida – disse.
Durante a entrevista, Márcio arrumava sua mochila. Para enfrentar temperaturas extremas, abaixo dos 10 graus negativos, e alto desgaste físico, é necessário saber fazer uma boa mala. Um dos itens mais importante é um par de tênis adequado.
A mala deve ter tudo que é essencial, mas sem exageros. Ou, então, o que é para ajudar acabará por atrapalhar Márcio. Ele é quem vai levar todo esse peso ao longo dos 434km, puxando seu trenó. Durante os treinos, para simular essa situação, Márcio corria arrastando um pneu.
Ao longo desta reportagem, você vai ver itens essenciais que Márcio carregará ao longo da prova. Todos os itens têm como objetivo principal manter o corpo de Márcio aquecido o máximo possível. Uma de suas estratégias é levar dois pares diferentes de palmilhas.
Pelo menos, a experiência ajuda Márcio na hora de fazer sua mala. Ele já foi à ultramaratona no gelo três vezes. Em 2008, não completou. Em 2009, trouxe o troféu para casa e, em 2010, quando a ideia já era dobrar as distâncias, uma nevasca o impediu. Ele está consciente de como esse desafio é arriscado e que deve estar sempre alerta para pedir ajuda. Por isso, carrega consigo um apito.
Ele vai correr os primeiros 217km da chegada para a largada...totalmente sozinho. Na segunda parte da prova ele largará com os atletas. Não que a segunda parte do desafio seja algo fácil, mas, pelo menos, Márcio poderá contar com a estrutura da prova. Para não se perder durante o primeiro trecho, Márcio pretende marcar o percurso com uma fita refletiva.
Estar sozinho, sentir sono, não poder parar, senão congela, carregar muito peso nas costas, risco alto de desidratação e ainda ter que evitar ser atropelado pelas motos de neve, conhecidas em inglês como snowmobile. Algumas dificuldades, Márcio tenta antecipar. Para matar a sede, o corredor levou consigo uma panela.
Diante de tantos perigos, a distância em si é o que ele acha mais tranquilo. Afinal, segundo Márcio, correr durante muito tempo é exatamente o grande prazer do ultramaratonista. Difícil é que falta apoio financeiro ao atleta. Márcio recebeu ajuda de duas empresas, mas, para uma empreitada desse porte, o ideal seria ter treinado de forma adequada e ter uma equipe de apoio ao seu lado durante os 434km. Como não terá ninguém, ele usará um colete especial para a ocasião.
Mas o simpático Márcio não desiste e disse que os amigos sempre o incentivam e o ajudam financeiramente quando ele precisa. Sua médica, preocupada com os perigos da neve, realizou uma pesquisa para saber como soldados se viravam em situações extremas de frio na época da segunda Guerra Mundial. Além disso, passou, a Márcio, técnicas como resfriar suas extremidades para se adaptar melhor ao frio. O rosto será protegido com uma máscara especial.
O ideal era que ele treinasse num frigorífico, mas, na falta de oportunidade, o corredor saiu pelo Rio de Janeiro, carregando seu pneu. Márcio contou sobre todas essas dificuldades de forma tranquila. Consciente do que vai enfrentar, mas determinado a conseguir alcançar a linha de chegada. Ele disse que o ponto forte do corredor é preparar sua mente para o desafio. Em toda sua fase de treino, Márcio mentalizava a prova durante suas passadas, no banho e na hora das refeições. E na chegada, a imagem que vinha à cabeça era sempre dele tremulando a bandeira do Brasil.
- Quando chega no dia, a prova já está feita na cabeça. É só botar em prática. E o engraçado é que você tem uma força que vem de dentro e faz com que você consiga. Você acha que os 434km eu corro com as pernas? Antes do 200km, o corpo já acabou há muito tempo. O que me leva é a mente – contou o corredor, que levou carvão ativado para que partes mais desprotegidas do seu corpo congelem.
0 comentários:
Postar um comentário